sábado, 26 de março de 2011

ENTREVISTA DA HEBE COM DILMA.

Foi fácil encontrar Dilma no Palácio da Alvorada – apesar do falso suspense de Hebe:

“Será que ela vai me receber?”, pergunta Hebe fazendo um suspense idiota dos anos 30.
Claro que vai receber: Hebe logo avista Dilma chegando para o encontro acertado com semanas de antecedência. Close em Hebe, que se desmancha ao vislumbrar a aparição.

“Ahhh, ai, ô meu Deus, é verdade”, querendo demonstrar um êxtase que só convenseria telespectadores dos anos 20, os braços escancarados para abraçar a presidente-gracinnha.

DUAS COLEGAS EM PERFEITA SINTONIA INTELECTIVA
O longo abraço de duas velhas amigas que nunca se viram em pessoa inicia uma troca de energia que desafia todos os códigos que regem as entrevistas presidenciais exclusivas da história da República – nas quais, basicamente, o entrevistador traz como credencial a tradição de ter sempre algo importante a perguntar, ou o presidente não lhe daria uma exclusiva; e o presidente entrevistado tem sempre algo importante a responder, ou não seria presidente.
Para Hebe, que demonstraria na conversa nunca ter lido uma única linha sobre a pessoa que comanda seu país, Dilma é apenas uma mulher que virou presidente. Para Dilma, que nos 40 minutos seguintes daria respostas à altura das piores perguntas jamais feitas a um presidente da República, Hebe é apenas a senhorinha a que ela já assistia adolescente, quando entrevistava a gracinha do Roberto Carlos.

O universo de Hebe ainda é o mesmo que servia de pano de fundo ao programa “O mundo é das mulheres”, que ela comandava em 1955 na TV Paulista. O mundo de Dilma Rousseff, bem, é o mundo de Dilma Rousseff.

“Muito prazer em te receber”

“Me belisca”, pede Hebe, fingindo incredulidade.

“Não vou te beliscar”, atalha Dilma, condescendente.

E já num sofá do Alvorada:

“Gente, vocês não têm ideia (…) Eu estou inteirinha arrepiada.(…) Eu sou uma pessoa muito sincera: eu não via essa doçura, essa coisinha boa, tanto que eu estou aqui, eu olhei e disse meu Deus, como você é linda, uma pele maravilhosa, um sorriso delicioso. E o olhar. O olhar é bárbaro”
Uma das vantagens de ser Hebe: poder dizer essas coisas, cara a cara, para a presidente da República.

“A honra é minha, Hebe, porque falar com você também é uma coisa que emociona, porque você é nossa representante mulher na TV brasileira”.

Curiosidade: quem seria nosso representante homem? Gugu? Faustão? Raul Gil?

Fingindo se passar por povão e telespectador bossal, para não perder audiência, a entrevistadora solta a seguinte pérola:

“ESSE PALÁCIO, SE OCÊ OLHÁ, ESSE PALÁCIO É BONITO”

Estar num edifício “histórico”, com Palácio no nome, impressiona a viajada visitante. Mas a presidente procura descaracterizar a solenidade palaciana:

“É histórico, é um, vamos dizer, símbolo do que é, o espírito do povo brasileiro, que é um espírito moderno, mas ao mesmo tempo muito simples. Esse palácio, se ocê olhá, ele é um palácio bonito, mas ele é simples, ele é tranquilo”.

Niemeyer, em 103 anos de vida, ainda não tinha conseguido descrever o Alvorada com tamanha precisão axial.

Outra pérola: Vida de presidente não deve ser igual à de todo mundo – desconfia Hebe. Mas é muito diferente mesmo?

“Não é de fato uma coisa boa você perder a possibilidade de andar na rua, de você entrar numa padaria. Mas tem suas compensações é uma grande honra, afinal de contas, ser presidente do Brasil, é muito importante”.

Hebe não tem a menor ideia do passado de Dilma. E Dilma não tinha a menor ideia do que Hebe queria dizer ao lhe perguntar quando entrou para a política.

“Eu entrei na política, Hebe, no Colégio Estadual de Minas Gerais”.

“Ahhhh, que lindo” (kkkkkkkkkkkkk, quanta falsidade)

“(…) Eu fui fazer o clássico, voce fazia científico ou clássico, fui fazer no Colégio Estadual e lá no Colégio Estadual eu entrei para política”.

Dilma se refere ao movimento estudantil que acabaria levando-a para a luta armada. Hebe só entende política como cargo público:

“Jura? Mas então foi muito cedo”, espanta-se Hebe, talvez imaginando uma adolescente apresentando projetos na Câmara dos Deputados.

“Eu devia ter uns 16 anos”.

“Nossa! Que coisa incrível”.

“O Brasil vivia um momento de muita, de muita, turbulência. Então a minha geração foi uma geração que se motivou para mudar tudo, nós queríamos mudar o mundo”.

“Olha, com 16 anos! Então tinha que ser. Com 16 anos, ocê veio caminhando como deve ser. Ninguém pode ser presidente da noite para o dia”, pontifica a cientista política Hebe Camargo.

Risos desbragados nas coxias. O que ninguém pode ser, na visão republicana de Hebe, foi exatamente o que Dilma foi. Mas Hebe não sabe disso.

A coisa foi forte até para Dilma, que faz um reparo:

“Eu nunca fui nem, vereadora…”

E a presidente nasceu em Minas e depois foi para Porto Alegre, por quê? Conheceu alguém?

“Conheci alguém”, eis outra revelação exclusiva que Hebe conseguiu tirar de sua entrevistada. “Meu ex-marido é gaúcho, então eu fui morar lá. Logo depois que eu saí da prisão, eu fui para Porto Alegre.”

Como? Marido? Prisão? Até Hebe desconfiou de uma metáfora. Mas precisou tirar a prova:

“Saiu da prisão?”, choca-se Hebe, talvez já começando a achar que está entrevistando a pessoa errada.

“(…) Eu fui presa política no Brasil”, explica Dilma pacientemente, para uma interlocutora incrédula e amargamente desinformada e burra.

“Gente do céu!”

“Em São Paulo, eu sempre passo pela avenida Tiradentes onde tem um portal, não sei se voce lembra, do presídio Tiradentes que foi derrubado para fazer a estação do metrô? Tem um portal bonito, que é o portal antigo do presídio.”

Quem disse que Hebe não conseguiria arrancar nada de Dilma?

2 comentários:

  1. Vc tem uma sacada Victor............rsrss
    Mas a Hebe não é desse mundo não

    ResponderExcluir
  2. Graças a Hebe, que proporciona estas sacadas

    Obrigado pelos comentários postados neste blog

    Grande abraço, fiquem com Deus, e um grande beijo em todos

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.